segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Encontro entre dois olhos*


Um encontro entre dois olhos: olho no olho, cara a cara.
E quando estiveres próximo tomarei teus olhos
E os colocarei no lugar dos meus
E tu tomarás meus olhos e colocarás no lugar dos teus, então te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.
Assim nosso silêncio se serve até das coisas mais comuns e nosso encontro é meta livre.
O lugar indeterminado em um momento indefinido, a palavra ilimitada para o homem não cerceado.


(J.L.Moreno)



*Título sugerido por mim, apenas para postagem.

Não suje minha essência

Não suje minha essência
Com suas palavras profanas.
Não sou exemplo de perfeição
Mas também não sou total mundana.
Sou certa e sou errada.
Não queira me conter numa caixinha de bibelô.
Sou grande demais pra me limitar ao espaço dos troféus já conquistados.
Não quero ser sua conquista,
Quero estar na sua vida, fazer parte dela.
Cuidado!
A capa não mostra o conteúdo.
A aquisição é um risco!
Eu assumi esse risco!
Olhei a capa, depois adentrei pelo conteúdo
E o fixei em minha vida,
Com todas as perfeições e imperfeições.
E você?


(Bárbara Alanna - 2014)

Soneto de devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei 
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda as marcas dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


(Vinícius de Moraes - 1937)



domingo, 1 de fevereiro de 2015

Corações desejosos

Corações desejosos,
Corpos que clamam um ao outro,
Mas os olhares não se cruzam!
Instala-se o silêncio,
Balbucio, suspiros,
Muito esforço para evitar o encontro.
E os olhares não se cruzam!
Basta apenas um roçar da pele
Para o corpo todo se eriçar,
O coração palpitar.
A boca fica pedindo um beijo.
Mas os olhares não se cruzam!
A presença já não é suficiente;
Corpo e alma tem que estar ali.
Orgulho! Pra quê?
De que serve afinal?
Se os olhares não se cruzam.
Muito e pouco juntos,
Contradições desequilibrantes,
Desestruturantes,
Se não são bem pesados.
Palavras soltas no ar,
Machucando mais que uma lança.
Esses olhares que não se cruzam...
Enfim a entrega, a doação,
Fingem que não escutam
O chamado do coração
E o ardor do corpo que queima
De paixão.


(Bárbara Alanna - 2009)