sexta-feira, 13 de março de 2015

Deixe que elas caiam


Deixe que elas caiam
Que escorram em grossas torrentes,
Lavando a tua alma,
Levando tuas dores.
Deixe que elas saiam
Do âmago do seu ser.
Permita o pranto extravasado!
Grite o sofrimento calado!
Rompa o lacre do censurado!
E depois de tudo jogado,
Permita o recomeço,
Seja você!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Encontro entre dois olhos*


Um encontro entre dois olhos: olho no olho, cara a cara.
E quando estiveres próximo tomarei teus olhos
E os colocarei no lugar dos meus
E tu tomarás meus olhos e colocarás no lugar dos teus, então te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.
Assim nosso silêncio se serve até das coisas mais comuns e nosso encontro é meta livre.
O lugar indeterminado em um momento indefinido, a palavra ilimitada para o homem não cerceado.


(J.L.Moreno)



*Título sugerido por mim, apenas para postagem.

Não suje minha essência

Não suje minha essência
Com suas palavras profanas.
Não sou exemplo de perfeição
Mas também não sou total mundana.
Sou certa e sou errada.
Não queira me conter numa caixinha de bibelô.
Sou grande demais pra me limitar ao espaço dos troféus já conquistados.
Não quero ser sua conquista,
Quero estar na sua vida, fazer parte dela.
Cuidado!
A capa não mostra o conteúdo.
A aquisição é um risco!
Eu assumi esse risco!
Olhei a capa, depois adentrei pelo conteúdo
E o fixei em minha vida,
Com todas as perfeições e imperfeições.
E você?


(Bárbara Alanna - 2014)

Soneto de devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei 
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda as marcas dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


(Vinícius de Moraes - 1937)



domingo, 1 de fevereiro de 2015

Corações desejosos

Corações desejosos,
Corpos que clamam um ao outro,
Mas os olhares não se cruzam!
Instala-se o silêncio,
Balbucio, suspiros,
Muito esforço para evitar o encontro.
E os olhares não se cruzam!
Basta apenas um roçar da pele
Para o corpo todo se eriçar,
O coração palpitar.
A boca fica pedindo um beijo.
Mas os olhares não se cruzam!
A presença já não é suficiente;
Corpo e alma tem que estar ali.
Orgulho! Pra quê?
De que serve afinal?
Se os olhares não se cruzam.
Muito e pouco juntos,
Contradições desequilibrantes,
Desestruturantes,
Se não são bem pesados.
Palavras soltas no ar,
Machucando mais que uma lança.
Esses olhares que não se cruzam...
Enfim a entrega, a doação,
Fingem que não escutam
O chamado do coração
E o ardor do corpo que queima
De paixão.


(Bárbara Alanna - 2009)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Receita de felicidade

Acordar e ver que o outro está te olhando com admiração;
Levantar, espreguiçar-se, e dar "bom dia" ao dia;
Sentir a brisa da manhã;
Tomar café da manhã, almoçar ou jantar juntos;
Rir um do outro e rir com o outro;
Passar momentos divertidos juntos;
Ouvir "eu te amo";
Dizer "eu te amo";
Se deixar levar ao som de uma música;
Ler um bom livro;
Assistir um bom filme;
Enfim...
A felicidade está presente no nosso dia a dia, nós é que não sabemos enxergá-la!


(Bárbara Alanna)

Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo

Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo,
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que é que tem.

Olho por todo o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo
De ser eu mesmo de meu ser me deu.

Como as páginas já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.

Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par.
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.

Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.

Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível
Que sou eu, sendo eu por 'star aqui?

Serei eu, porque todo o pensamento
Podendo conceber, bem pode ser,
Um dilatado e múrmuro momento,
De tempo - seres de quem sou o viver?


(Fernando Pessoa)



Amanheceu


Amanheceu.
O dia lá fora me convida a brindar à vida.
O verde das folhagens balançando ao vento me impulsiona a dançar a alegria de viver.
O vôo dos pássaros me levam a sonhar.
E sonhando acordada, eu vivo meu mundo.
Não é um mundo perfeito.
Mas é um mundo gostoso de viver, de habitar.
Muito mais amor, bondade, fé, esperança.
Um mundo onde a corrupção e violência dos homens cede lugar para as boas atitudes, para o sentimento de justiça e igualdade.
Alguns podem dizer que isto é pura utopia, idealismo, um sonho bobo.
Bobos todos nós somos!
A natureza se descortina na nossa frente a cada amanhecer e anoitecer.
As crianças, com seus sorrisos sinceros e inocentes, nos mostram como é bom viver, desfrutar do mundo a nossa volta.
Mas estamos tão embebidos em ganância, ambição, sonhos grandiosos, que deixamos de enxergar e admirar as coisas simples e maravilhosas da vida.
A vida é uma tela onde nós pintamos a nossa existência.
Viver é uma arte, um dom!


(Bárbara Alanna - 2010)

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sente bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


(Fernando Pessoa)




*Poeta que amo!

Não quero me iludir!

Contemplo o entardecer
Esperando com ansiedade
A chegada do anoitecer
E a tristeza que me invade.

Queria que ela fosse embora
Mas se tornou minha companheira
E assim eu passo as noites
E os dias também, enfim
Dessa forma é o meu agora
Então acabo trancando-me em mim.

O meu olhar me condena
Lá dentro há uma revolução
Pensamentos que se chocam
Sentimentos em confusão

Tua visão é inebriante
Mas não quero em enganar
Porque mesmo contigo aqui
Tão perto e tão distante
Em minha ânsia de te amar
Procuro não confundir
Teus gestos e atitudes
Como uma decisão.
Não quero me iludir!


(Bárbara Alanna - 2011)

A estrela



Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.


(Manuel Bandeira)

Não me queiras com certezas

Não me queiras com certezas,
Sou um ser de dúvidas,
De pensamentos mil!
Não me queiras com respostas,
Sou um ser de perguntas,
De questionamentos!
Não me queiras mínima,
Pois sou um ser de máxima!
Inconstantemente constante!
Constantemente inconstante!
Não adentre meu ser!
Mas, se adentrar,
Contemple, medite,
Questione, assuste-se!
Mas não espere que eu saiba
Tudo que sou!
Entenda:
Apenas sou!


(Bárbara Alanna - 2014)